Encontro com Elas recebe Gláucia Portela
A professora discute os desafios da educação contemporânea e destaca a importância da empatia e do papel compartilhado entre família, escola e sociedade
Foto: Rebeca Liz
No quadro “Encontro com Elas” do programa UP Notícias, transmitido nesta quarta-feira (28), a professora e cronista Gláucia Portela foi a convidada especial. Em uma conversa profunda e emocionante, mediada por Dóris Andrade e Maria Gomar, o tema central foi a educação e as transformações que ela tem sofrido ao longo das gerações.
Durante o bate-papo, Gláucia abordou a complexidade de educar nos dias de hoje. Segundo ela, formar crianças e adolescentes nunca foi tarefa simples, mas se tornou ainda mais desafiadora diante da mudança nos papéis sociais e da crise das instituições tradicionais, como a família e a escola. Embora os modelos de educação tenham se transformado com o tempo, sempre existiu um referencial de autoridade e responsabilidade. Hoje, no entanto, vivemos um momento de rompimento desse contrato social.
Um dos pontos mais marcantes da conversa foi a crítica à terceirização da educação. A professora observou que muitos pais têm repassado à escola a missão de transmitir valores e formar o caráter dos filhos, algo que, em sua visão, precisa ser dividido entre família, escola e sociedade. Com jovens cada vez mais influenciados por redes sociais e conteúdos digitais, a escola, sozinha, não consegue suprir todas as demandas formativas.
Gláucia também chamou atenção para contradições no comportamento familiar. Muitos pais não autorizam que seus filhos saiam sozinhos para atividades simples, como ir à padaria, mas os deixam navegar livremente pelas “ruas da internet”, sem supervisão. Essa ausência de acompanhamento, segundo ela, contribui para o surgimento de jovens pragmáticos, de poucas palavras e com vínculos frágeis com as relações humanas.
A empatia e a sensibilidade surgiram como eixos centrais da discussão. Gláucia compartilhou a história de uma aluna de 14 anos que se considerava “besta” por ser gentil e solidária. Para a educadora, esse sentimento revela o quanto a sociedade tem desvalorizado a sensibilidade, quando, na verdade, ela deve ser reconhecida como um diferencial humano, especialmente na formação educacional.
Ao longo da entrevista, também foi discutido como a empatia tem desaparecido das relações sociais, comprometendo tanto o ambiente escolar quanto o convívio cotidiano. Dóris destacou que atitudes como compreensão, perdão e segunda chance têm se tornado raras, o que revela a necessidade urgente de reavaliar o papel das instituições na formação do indivíduo.
Para Gláucia, é preciso promover uma verdadeira metamorfose nas estruturas sociais. Se escola, família e demais instituições continuarem operando com lógicas ultrapassadas diante de uma sociedade em constante transformação, não será possível enfrentar os desafios que surgem diariamente, especialmente os ligados à afetividade, à convivência e à prevenção da violência.
Confira a entrevista na íntegra: